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O binaricentrismo ao definir a bissetriz

Um desabafo sobre o foco em experiências homem/mulher em espaços bigênero.

Ao pesquisar “bigênero” em alguns espaços virtuais, você vai ver uma grande quantidade de pessoas definindo a identidade como a experiência de alguém que é um homem e uma mulher. Muita gente ainda acha que a definição de bigênero é essa. Algumas até tomam a definição “ter dois gêneros” como automaticamente ser dos dois gêneros binários. Afinal, quais gêneros existem além de homem e mulher, não é?

Não é?

(Isso é sarcasmo.)

A sensação de ser um patinho feio em uma comunidade que deveria te abrigar

Além da ignorância de gente binária exorsexista, há a ignorância de gente não-binária que simplesmente não considera que nem toda pessoa bigênero é homem/mulher. E eu quero falar especificamente sobre a falta de consideração que vem de outras pessoas bigênero. Pessoalmente, isso é o que me dói mais. Ver pessoas bigênero homem/mulher agindo como se suas experiências fossem a única forma de ser bigênero no mundo machuca. E como machuca.

Ao entrar em qualquer espaço bigênero online, experiências homem/mulher são as mais comumente citadas. As piadinhas são sobre experiências homem/mulher. Os headcanons são sobre experiências homem/mulher. As histórias, os posts informativos, o compartilhamento de vivências, etc. E as coisas não mudam muito em espaços físicos. Sempre que a identidade bigênero é citada, o foco são experiências homem/mulher. É como se não houvesse um espaço pra nós.

A noção de que bigênero é apenas pra pessoas que são homem/mulher é tão amplamente difundida, que pessoas que não se relacionam com isso não se sentem bem-vindas a reinvindicarem o rótulo “bigênero” para si. Eu já perdi a conta das vezes em que presenciei alguém perguntando se poderia se identificar como bigênero mesmo sendo homem/agênero, agênero/neutrois e etc. Isso é revoltante. Não deveria haver dúvidas sobre a identidade bigênero contemplar qualquer pessoa que tenha dois gêneros e que se sinta confortável em se identificar assim. Mas nós vivemos em uma sociedade em que gêneros binários são o centro, e pessoas não-binárias não estão isentas de reproduzir isso.

Sobre transmultimisia e o porquê de eu ter acabado pegando ranço do termo

Esse é o post de cunhagem do termo.

Aviso de conteúdo: Uso do sufixo “-fobia” para atitudes discriminatórias.

Em resumo, transmultimisia é a discriminação contra pessoas multigênero. Primeiramente, eu tenho que explicar que eu não tenho nada contra o termo em si. Eu acho que ter palavras para descrever a discriminação que sofremos muito importante. Por isso que quando eu soube que alguém tinha cunhado transmultimisia, eu fiquei muito feliz.

Mas as coisas ficaram agridoces rápido.

Ao ler os posts com a tag “transmultiphobia” no tumblr, eu percebi rapidamente que a maioria das pessoas estavam centrando em discriminações que pessoas multigênero que são homem e mulher enfrentam, e deixando de fora outras experiências. Blogs relativamente populares no meio não-binário inclusos nesse meio. De certa forma eu até que entendo, essas pessoas estão falando sobre as próprias experiências com discriminação, e não há nada de errado nisso. Mas eu acho difícil não ficar irritade com blogs que se propõem em falar sobre transmultimisia em geral, mas acabam sempre postando apenas sobre experiências específicas para pessoas bigênero homem/mulher. Não é só escroto com pessoas bigênero que não são homem/mulher, mas com pessoas multigênero que não são bigênero também.

Após notar isso, eu peguei uma birra, confesso. Eu ainda acho que é um termo útil, mas eu não consigo não ficar com um gosto amargo na boca com isso tudo.

É muito irônico o fato de terem cunhado transmultimisia para tornar as coisas que pessoas multigênero passam visíveis, mas no final, uma parte da comunidade ainda continua invisível.

Lembro até de ter visto alguém reclamando sobre isso no tumblr, sendo basicamente respondide com: “É que essas experiências são mais comuns”.

São? Será que experiências de pessoas bigênero homem/mulher são mais comuns, ou são vocês que nunca fazem um esforço para buscar outras experiências?

É uma coisa para se refletir.

Considerações finais

Só pra deixar claro, eu não tenho nada contra pessoas bigênero homem/mulher, ou sobre essas pessoas desabafando sobre as experiências delas e etc. Eu só estou cansade de ver experiências como as minhas sendo excluídas das discussões. É exaustivo. Fazendo esse tipo de coisa, é como se dissesse para pessoas que não se identificam com os gêneros binários que elas não têm o direito de se encaixar em lugar nenhum.

Sinceramente? Ninguém merece.

Obrigade pela atenção.